O rali de Portugal de 1986 ficou para a história pelos piores motivos: quatro mortos e 31 feridos, num acidente no primeiro troço, envolvendo uma saída de estrada do Ford RS 200 da dupla Joaquim Santos/Miguel Oliveira. O tradicional mau comportamento dos espectadores portugueses tinha sido posto à prova das mais terrível das maneiras.
Naquele ano, meio milhão de espectadores, segundo as estimativas, lotaram as três primeiras classificativas do rali, na serra de Sintra. Em 1986, a excelente lista de inscritos - em qualidade, das melhores que alguma vez "pisou" solo nacional, com todas as equipas de fábrica presentes - decerto contribuiu para o excessivo número de pessoas. E aí residiu a única atenuante - se é que alguma pode existir - da tragédia.
De resto, o comportamento do público no rali de Portugal era sobejamente conhecido. A par dos italianos, diga-se, eram os piores. Exemplos havia muitos: em Fafe, por exemplo, no célebre salto do troço de Lameirinha, o público "esperava" os carros no meio da estrada e só se afastava no último momento.
Em Sintra, enquanto os pilotos da frente, na terceira classificativa, se limitavam a evitar as pessoas, no primeiro troço, Joaquim Santos sai da estrada: se as consequências do acidente correram mundo, as causas do despiste nunca foram convenientemente explicadas, embora o próprio piloto tenha alegado que o comportamento desiquilibrado do carro se ficou a dever a ter evitado, momentos antes, o choque com dois espectadores que se encontravam na estrada.
No regresso ao Estoril os pilotos oficiais exprimiram a revolta. Houve declarações polémicas, quem se espantasse pelo facto de "só" quatro pessoas terem falecido. E, no final de uma reunião, rodeada de um ambiente tenso, decidiram, por respeito às vítimas, abandonar o rali.
Este continuou, no entanto, reduzido aos pilotos portugueses e a alguns privados estrangeiros. Joaquim Moutinho, em Renault 5 Turbo, foi o vencedor, possivelmente a vitória mais amarga da sua carreira.
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